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55 dias no hospital

Há exatos 55 dias estou no hospital, internada e sendo monitorada para que minha gravidez caminhasse até mais longe e que meu filho pudesse se desenvolver mais dentro de mim. Eu confesso que relutei um pouco se escreveria este texto e, após escrevê-lo – como uma forma de desabafo -, se eu publicaria aqui. Quando eu penso em toda a minha trajetória para ser mãe e em como sempre fui aberta sobre todas as perdas e problemas que tive para ter o Thomas nos meus braços eu senti que eu deveria falar sobre isso agora que estou lutando para ter o Ian. E o principal motivo é que, todas as vezes que eu passei por algum momento difícil, eu procurava forças nas pessoas que passaram por problemas semelhantes e tiveram uma história de sucesso. E quando me abri sobre o meu problema (leia aqui e aqui) eu sei que também pude ajudar muitas mães e pessoas que têm o sonho de se tornar mães. Portanto nada mais justo do que, novamente, transformar esses longos dias de incerteza em texto e em esperança.

Tudo começou na madrugada do dia 23 de maio – aniversário do meu marido – quando fui ao banheiro fazer xixi e tive um sangramento. Na época estava com quase 7 meses de gravidez e lembro de parar, respirar fundo e não entrar em pânico. Confesso que foi muito difícil pois já perdi dois bebês antes e todo aquele sentimento veio novamente: medo, angústia, incerteza… mas alguma coisa dentro de mim me fez ficar calma, chamar meu marido e pedir para ir para o hospital. No caminho para o hospital o Ian mexia muito na minha barriga (um alívio!) e eu sabia que ele estava vivo, mas tinha muito medo dele nascer tão cedo e tão indefeso. Eu trabalho na área da saúde e apesar da minha área não ser neonatologia eu já li sobre e sabia dos riscos que um bebê prematuro de 27 semanas poderia ter.

Chegando no hospital fui prontamente atendida e monitorada. Fomos informados que eu deveria ficar internada por 48 horas para ver a evolução do caso e também tomar duas injeções de celestone, um corticoesteróide que iria ajudar no desenvolvimento dos pulmões do Ian caso ele tivesse que nascer antes. Foram 48 horas tensas, mas que passaram rápido. Neste período as contrações pararam e eu voltei para casa com algumas recomendações e repouso por pelo menos 10 dias. Fiz tudo que os médicos pediram mas 2 dias depois o sangramento voltou – sempre de madrugada – e lá fomos nós para o hospital. Desta vez o sangramento foi pequeno e não precisei ser internada, mas fui informada que em uma terceira vez eles não me deixariam sair mais do hospital, até o final da gravidez.

Uma semana havia se passado sem sangramento. Estava em casa. Estava super bem. Estava feliz. Eis que na madrugada do dia 1 de junho o sangramento voltou, muito mais intenso. E lá fomos nós para o hospital… mal sabia eu que não voltaria para casa em 2 meses . Este sangramento foi bem mais forte e durou alguns dias. Fui prontamente internada e fiquei em observação e monitoramento. Os primeiros dias foram de muita incerteza e cada dia que passava era de comemoração (1 dia a mais do Ian na minha barriga = 2 dias dele a menos na UTI neonatal). Os sangramentos não paravam… eles diminuíam e logo em seguida voltavam com força total, como se acontecessem em ciclos de 4-5 dias. A cada novo ciclo uma nova incerteza seguido de um alívio e comemoração: mais um dia, mais uma vitória.

Nós sabíamos o que estava acontecendo e não havia nada a ser feito. Eu fui diagnosticada nas 22 semanas de gravidez com placenta previa (placenta baixa), que é quando a placenta cobre parcialmente ou totalmente o cérvix feminino, causando sangramentos. Como foi diagnosticada cedo a tendência é que ela “subiria” a medida que o útero aumentasse, o que não foi o caso. Como disse este tipo de condição pode levar a sangramentos no final da gravidez e durante o parto, mas como Ian é grandão meus sangramentos começaram antes. Ainda, depois de ter feito no passado algumas curetagens e procedimentos no meu útero a minha placenta não era, digamos, muito boa, e suspeitamos de outras condições que poderiam agravar o sangramento. Mas nada, assim, que pudesse trazer grandes riscos para mim ou para o Ian. O grande risco de tudo sempre foi ele nascer prematuramente, e este risco existiu todos estes 55 dias que eu estive no hospital, ou pelo menos os dias que antecederam as 37 semanas de gestação pois depois disso o bebê não é mais considerado prematuro e pode nascer sem grandes riscos.

Eu fiz um texto aqui no blog quando estava em casa me recuperando e depois que vim para o hospital para esta, digamos, “estadia estendida”, eu resolvi ficar quietinha. Foquei TODAS as minhas forças e o meu pensamento no meu filho. Foi um tempo de reflexão. Foi um tempo de paciência. Foi um tempo de amor, muito amor. Eu sou uma pessoa MUITO ativa então ficar em um mesmo quarto não foi algo fácil. Mas, vocês querem saber, foi bem mais fácil do que eu imaginava. Eu tive muito apoio da família, dos amigos e uma força enorme que vinha de dentro de mim, que eu acredito que era Deus. Só podia ser ele. Eu consegui relaxar, me conectar com meu corpo e meu filho e deixar as coisas acontecerem, sem desespero, sem culpa, sem nervosismo. Obviamente não foi fácil, especialmente sabendo que o Thomas estava em casa me esperando todos os dias e que eu não poderia ser mãe dele por quase 2 meses em uma fase tão importante da sua vida. Mas tudo é uma questão de como você aceita as coisas que acontecem na sua vida… e eu não iria aceitar perder o Ian. E eu estava feliz em poder cuidar dele e saber que ele ficaria bem. E naquele momento eu deveria focar em “ser mãe” do Ian e fazer de tudo para ele ficar bem, sabendo que o Thomas estava sim muito bem tratado e amado por todos.

Eu foquei demais no meu objetivo. Eu me mantive feliz. Eu me apaguei ao fato de estar podendo gerar uma outra vida e estar sendo super bem cuidada. Eu sabia que estava ficando longe do Thomas porque estava me cuidando para dar o melhor presente que eu poderia dar para ele – um irmão. Eu quis ser calma para acalmar meu marido. Eu sou eternamente grata a minha sogra, a Neide (prima da minha sogra que nos ajudou muito enquanto estava aqui) e aos meus pais por todo o apoio e feliz deles terem a oportunidade de cuidarem desta criança super especial que é o Thomas e se dedicarem 100% ao neto que mora longe. Eu pensei no Jojoe todos os dias. Eu chorei. Chorei muito. Chorei de saudade. Chorei de medo. E a cada choro parecia que eu ficava mais forte e mais focada. E assim estes 55 dias passaram. E assim o dia que o Ian nascerá está chegando…

40 comentários em “55 dias no hospital”

  1. Rafaela Nardelli Bruno

    Força, Gaby! Lindíssimo texto. Fase de amor. Muito amor. E Deus está guiando vocês. Ian nascerá muito saudável. Será um parto abençoado. Vocês voltarão logo pra casa. Jojoe, Thomas e seu marido ficarão tão felizes! Vai valer muito a espera. Beijo desta recente seguidora.

  2. Que texto lindo, fiquei emocionada e senti vontade de te dar um abraço bem forte. Obrigada por compartilhar e saiba que estamos rezando por vcs todos!

  3. Muito feliz em saber que as chances de tudo correr bem no parto são grandes! Mandando muitas energias positivas pra você, Gabi 🙂

  4. Oi Gaby, me identifiquei 100% com seu texto. Emocionante! Vc escreveu coisas que eu poderia ter escrito igual pois me senti muito parecida nos 4 meses que fiquei totalmente de cama ( o último mês já no hospital) para garantir o nascimento das meninas em boas condições. Força, fé, determinação e Deus, só isso explica os milagres da vida, o que elas foram e são pra mim… e acho que seus filhotes são pra vc. Continue firme, logo virão dias muito felizes com todos os seus amores nos seus braços. A vitória é certa, Deus abençoe vcs!! Bjao

  5. Vai dar tudo certo! Já deu. Quando temos Deus podemos até vacilar, mas a gente fica mais forte. Parabéns pelo relato e pela coragem. Um grande abraço!

  6. Gaby, um abraço bem apertado e os desejos de muita saúde pro Ian e pra toda sua familia. Ja diria minha tia do interior: “uma boa hora pra você!”. Beijos

  7. Todos esses dias de dedicação valeram a pena! Você conseguiu chegar na reta final da gestação! Que Deus continue derramando bençãos na sua família! Beijos

  8. Gaby, que Deus continue abençoando muito vocês e graças a Ele tudo vai dar certo. Falta pouco agora, muita saúde para você e sua família. bjo!

  9. Gaby
    Cada segundo ai valeu a pena e logo seu pequeno estara junto de vocês , uma boa hora e que Deus continue iluminando vocês ??

  10. Gaby, li o seu texto com lágrimas dos olhos de emoção e amor por sua família. Sem dúvidas, Deus esteve ao seu lado cuidando, abençoando e dando forças para superar esses dias. Eu consigo imaginar a angústia do seu coração, mas agora já deu tudo certo. Muito em breve, você terá o Ian em seus braços e estará ao lado do Thomas, matando toda a sua saudade vendo crescê-lo lindo e bem. Que você tenha uma boa hora e possa desfrutar de muitos momentos felizes ao lado dos seus 4 meninos. Beijos carinhosos!

  11. Gabi, sua força e seu foco te levaram longe na gestação e será assim tb no parto. Fique tranquila que o pior já passou… torcendo por vc e que o Ian venha cheio de saúde! Um excelente parto a você. Força! Está quase lá. ?????

  12. Relato emocionante, inspirador e admirável! Parabéns por ser tão guerreira e tentar sempre ver o lado bom das coisas, por mais confusas que sejam! Logo o Ian vai estar do lado de fora para receber ainda mais amor, e a família estará junta novamente, em casa, ainda mais forte e unida! Que Deus abençoe vocês! Rezando pra um reta final de muita paz!

  13. Glória Helena da Silva Barros

    Boa tarde mamãe (sinônimo de guerreira)! As mulheres mães vencem obstáculos incríveis, maiores do que nossa imaginação nos outorga vencer! Se é para lutar por um filho, lutamos bravamente! E,Uau que força! Você agora conhece a força do instinto, a profundeza do sentimento que nos une a nossos filhos. Parabéns por aceitar tão dignamente estes momentos de luta e sofrimento.

  14. Você atrai o que vibra no seu interior e ele é puro amor, então não tem como dar errado. Minhas orações pra vocês, como dizem primeiro a tempestade depois o arco-íris, essa é a ordem
    Grande beijo Gaby

  15. Gaby, muito obrigada por dividir algo tão importante. Estou na torcida para que tudo ocorra da melhor forma e Ian venha com muita tranquilidade. Sabe, tive placenta marginal até a 38a semana, alguns sangramentos, e então ela subiu. Já tinha até cesárea agendada pq além disso tinha bb transverso, e tudo mudou, bb virou várias vezes antes de nascer. Minha Amanda nasceu com 41s5d. Espero que tudo mude pra vc tb, pra melhor!

  16. Oi Gaby

    Estou no momento passando por um dilema. Temos planos de nos mudar para o Canadá. Mas recentemente engravidamos e tive complicações. Pré Eclampsia e meu bebe nasceu se 31 semanas e não resistiu. Descobri que tenho trombofilia e devo fazer tratamento com injeções se enoxaparina. Aqui este tratamento é coberto pelos planos e pelo SUS. No Canadá nao sei como é . Agora temos que decidir se vamos ou se tentamos de novo nosso bebe no Brasil.

    Se tiver disponibilidade poderia me contactar pra me ajudar a ter mais informações sobre o tratamento ai?

    Obrigada

  17. Oi Gaby… estou lendo seu texto agora como forma de consolo e aconchego. Estou com 22 semanas de gravidez e também fui diagnosticada com placenta prévia. Está tido sendo muito novo pra mim, é meu primeiro filho, e agora estou tentando não me desesperar com essa nova notícia =(.
    Obrigada por compartilhar sua história e dar força pra todo mundo que está na mesma situação.

  18. Oi! Ler seu texto hoje me deu mais uma pontinha de esperança! Estou na mesma situação, estar longe da família é ainda mais difícil e minha filha tem 1 ano e um mês.. não está sendo fácil.. mas como você escreveu, cada dia na barriga diminui o tempo na UTI neonatal
    Obrigada por partilhar sua história!

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