Eu lembro bem tudo que senti quando a pandemia começou. O primeiro mês sem sair literalmente da porta de casa foi tenso e apesar do medo de uma doença pouco conhecida o meu maior receio era um só: meus filhos. Thomas é uma criança extremamente sociável e eu sabia que ele não estaria feliz em casa, sem ver, abraçar e se relacionar com pessoas. Ian estava gostando da creche e fazia poucos dias que não chorava mais quando eu deixava ele. Tudo mudou e um ano da infância dos meus filhos acabou sendo bem diferente do que eu imaginava.
Eu ouvia as pessoas falando que esta situação iria se perpetuar por anos e eu achava que todos estavam exagerados. Eu pensava “talvez usaremos máscara durante a flu season e só”. Eu realmente não imaginava que iríamos continuar sem ver pessoas, sem abraçar familiares e amigos, sem um convívio social e sem fazer muitas atividades que amamos. Outro dia pensei em como era bom ir aos domingos à tarde no shopping comprar roupas para o Thomas: ele corria por tudo, comprávamos o que queríamos e tomávamos um café gostoso. Ah, e tinha também o brunch de final de semana, as estadias em hotel sem motivo algum, os encontros com amigos, as festas de aniversário, os eventos, a ida ao restaurante com ótimo review, … Eu sempre quis criar meus filhos ao redor de gente – de qualquer tipo de gente – e esse foi um dos grandes motivos que me fez mudar para o Canadá e sair da “bolha” da vida que tínhamos no Brasil. A multiculturalidade daqui é incrível. Evitar contato com pessoas e não poder ter conversas me deixa abalada, porque eu sou uma pessoa sociável também. E as amizades que a gente deixou de conhecer por causa desta falta de contato me deixa muito triste, porque eu sinto que muitas pessoas especiais poderiam ter passado nas nossas vidas.
Eu acredito que esses anos de distanciamento social irão sim abalar os mais jovens: os pequenos irão se desenvolver (e se acostumar?) em um mundo mais quieto e sem muita gente; e os grandes – que lembram de como era antes – podem ter problemas psicológicos. Na verdade, isso já está comprovado em estudos científicos, infelizmente. Meu filho Thomas me pede muitas coisas para “depois que o vírus for embora”: quer trazer amigos para dormir aqui, quer viajar para visitar o primo nos Estados Unidos, quer passear na praia dos avós, quer ir ver cangurus na Austrália… e por ai vai. Muitas vezes estamos falando sobre outro assunto e ele, do nada, dirige-se a nós e pede por algo “depois do vírus of course“. Meu coração fica em pedaços.
Eu já contei para vocês sobre meu posicionamento durante a pandemia: agradeço o tempo com os meninos (que não teria se ela não tivesse surgido), agradeço minha saúde e agradeço ter flexibilidade para cuidar deles e continuar com meu emprego. Sou privilegiada e sei disso. Eu não acho justo eu reclamar do que está acontecendo mas é inevitável pensar nessas “perdas”, especialmente na infância dos meninos. Eu cuido muito para não criar expectativas na vida pós-pandemia, porque eu não sei se a vida como conhecíamos irá voltar tão cedo. Também tento me policiar para estimular os meninos a expressarem suas frustrações e sentimentos ruins e tento, dentro do possível, mostrar o quanto somos privilegiados em ter um ao outro e podermos estar juntos 24 horas, 7 dias por semana.
Aquela idéia de “viver o presente” é ainda mais válida neste momento da vida de todos e tento ver (e mostrar) o lado bom de tudo, criando oportunidades para os meus filhos estarem felizes mesmo com todas estas restrições. Não é fácil… Eu sinto que abraçar o “presente” tem que ser a nossa missão diária, especialmente diante de uma doença que está tirando o presente de tantas pessoas.