Eu sempre falo sobre mudança aqui no blog, porque acredito que nós estamos sempre mudando, não importa onde estejamos. Mas ao morar fora – sair do seu país de origem – as mudanças parecem que se intensificam. É difícil de explicar.
Hoje eu moro a mais de 10 anos fora do Brasil e eu mudei muito. Eu já tenho vários textos no blog sobre esse assunto – clique aqui para ler um deles – mas vira e mexe eu gosto de fazer uma reflexão sobre estas mudanças e expor elas para vocês, para que entendam o impacto daquilo que podem vir a viver (para aqueles que querem morar fora) ou que estão vivendo (para aqueles que já moram fora.
Sensação de não pertencer mais ao país de origem
Por causa da pandemia este ano eu consegui pensar mais sobre essas mudanças e pude perceber que eu mudei muito a minha maneira de pensar. Pessoas que eram muito próximas de mim e que compartilham parte da sua vida nas redes sociais já não tem os mesmos pensamentos que eu e agem de uma maneira que eu não agiria. E está tudo bem! Mas isso que fez entender que eu não pertenço mais ao Brasil: e esta foi uma das grandes mudanças que aconteceram quando eu morei fora.
Mudanças são mais fáceis de serem feitas
Não sei se todos sabem mas nós estamos nos mudando em breve. Isso mesmo: vamos sair de Toronto! E por mais que esta afirmação ainda me cause muito choque, ela vem cheia de felicidade. Eu ainda estarei trabalhando por aqui, mas optamos por experimentar uma vida no interior, no meio da natureza e com mais espaço. Será uma experiência e se a gente achar que não gostamos temos um plano B. O engraçado é que, no geral, estamos tranquilos. Isso porque depois que você mora fora você aprende que a sua casa está onde seu coração está e que a vida é muito curta para você ficar parado e não tentar e ter novas experiências. Toronto sempre terá nosso coração – assim como o Brasil, só que mais perto. Se pararmos para pensar a maior mudança foi quando viemos para cá: agora mudar de cidade não é nada.
Os valores mudam
Você muda e, com isso, seus valores também. Eu mudei MUITO e não me reconheço nas fotos que tenho de quando morava no Brasil. Minhas prioridades mudaram e o valor do meu tempo mudou: eu tive que aprender a dedicar 110% do meu tempo ao que importa para eu me destacar na minha área de trabalho, tive que realmente colocar a mão na massa para cuidar da casa, dos filhos e não depender da ajuda de familiares, babás e empregadas. Sou muito orgulhosa desta mudança e sei que, apesar de não ter feito bem para a minha aparência (oh, saudade de ir no salão sempre!) fez bem para meu interior.
Ser mais tolerante
A tolerância aqui não é só em relação ao frio – porque depois de 10 invernos eu tenho orgulho de dizer que não é qualquer -5C que me fará congelar. A tolerância que estou falando é em conseguir respeitar as diferenças, entender que também fazemos parte do “grupo de diferentes” (já que nunca deixaremos de ser imigrantes) e saber que os costumes mudam entre pessoas e nem todos pensam como a gente. Sou mais tolerante à sujeira (não dá para ter a casa impecável todo dia), ao sono, ao tráfego, a pimenta e, principalmente, às regras, já que TUDO muda em outro país.
A saudade não desaparece, mas muda de forma
Você continuará com saudade do seu país de origem ou, no meu caso, das pessoas que eu deixei lá. A família é certamente o que eu mais sinto falta quando penso na vida que tínhamos no Brasil e essa saudade nunca vai desaparecer. Porém, no decorrer dos anos, a saudade muda. Acho que depois de passar tantos momentos especiais com a família – tanto lá quanto aqui – a gente começa a entender que esses momentos só acontecem porque moramos fora. E essa valorização dos momentos juntos – que acabam sendo raros – deixa o encontro muito especial.
Você continuará vendo os dois lados moedas
Eu não me arrependo em nenhum momento de ter vindo morar no Canadá – pelo contrário: amo minha vida aqui! Mas é muito estranho não estar presente nas datas comemorativas com a família, nascimentos, casamentos, aniversários. Eu tenho a sorte de, em anos normais, ter meus pais sempre aqui com a gente nestas datas. Mas mesmo assim a gente sempre perde e, agora mais do que nunca, os meninos perdem: perde o almoço de domingo na casa da vó, perde brincar na praia preferida dos pais, perde a festa do priminho, perde a convivência tão importante com a família. Mas – e sempre terá um mais nessa história – ganha tanto, mas tanto, que no final a gente sempre vê essa perda como algo bom. Tem que ser assim!
Eu poderia escrever mais e mais sobre o que muda mas a verdade é que tudo muda e você nunca mais será a mesma pessoa depois que morar fora. A questão é você decidir – desde o começo da sua experiência – qual tipo de mudança você quer para a sua vida. Pense nisso, vá, mude e seja feliz!
Quem nao consegue desapegar acaba sofrendo o tempo todo e alguns ate desistem e voltam pra la.
Será que o que se procura (felicidade) em outro país não poderia ser encontrado no próprio país, com as vantagens de estar próximo das pessoas que se gosta e da sua própria cultura. Antes mudava-se para obter-se alguma vantagem econômica ou profissional o quejustificava o sacrifício, todavia, hoje, parece que as pessoas são intolerantes com o seu país e muito tolerantes com o país dos outros.
Ser mais tolerante a pimenta foi o melhor ?
Não tem como né? Eu era super fraca para pimenta quando cheguei aqui e ficava maluca que tudo tinha tanta pimenta.. Aos poucos o paladar acostuma mesmo, hoje nem me incomoda mais.