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Sobre os 10 intensos e maravilhosos primeiros anos de Canadá

Eu lembro exatamente de quando o Canadá surgiu na minha vida: foi em março de 2008 enquanto cursava meu mestrado na área de Ciências do Movimento Humano na UDESC de Florianópolis que eu comecei a mandar emails para instituições de ensino em países desenvolvidos com um projeto de pesquisa que havia criado. Na época eu tinha apenas 25 anos mas era casada com o Ju, recém-casada. Durante os anos de namoro viajamos muito e sempre pensamos em ter uma experiência internacional. Entre estes emails um diretor de um hospital me escreveu interessado, trocamos emails e o resto foi história: vim para Toronto fazer a tal pesquisa de junho à agosto de 2009 e depois passei na prova de PhD para a Universidade de Toronto, sendo que meu curso em Exercise Sciences começou em Setembro de 2010.

A decisão de vir para o Canadá envolveu muita coisa, mas principalmente muita confiança, amor e companheirismo. Quando eu conheci meu marido – quase 6 anos mais velho que eu – eu encontrei nele tudo que eu queria e uma dessas coisas foi apoio. O Juliano sempre me apoiou em tudo e eu sabia que nesse momento não seria diferente. Na verdade, foi ele que plantou em mim a sementinha de fazer o doutorado fora do Brasil. Lembro de estar em Toronto em 2009 e comentar com ele “olha só, eles falaram que eu teria chance de fazer um PhD aqui, vê se pode” e ele responder “por que não?”. E ele me ajudou e ele sempre confiou em mim e ele sabia que aquilo iria me fazer muito feliz. Mesmo que para isso a gente tivesse que mudar tudo nas nossas vidas de recém casados.

Vamos pausar aqui para contextualizar vocês: Juliano tinha uma empresa em Florianópolis e acabou fechando parceria com outra empresa em São Paulo e virando sócio desta empresa em 2009, quando nos mudamos para lá. Ele tinha recém começado nesta nova empresa quando tudo surgiu. Nesse meio tempo Jojoe também surgiu nas nossas vidas. Tudo era novo (de novo) e eu tinha muito medo de estar longe deles e de não ter eles perto de mim. Eu não queria morar longe do meu marido e do meu cachorro mas não queria abrir mão do meu sonho de estudar fora do Brasil. E meu marido SEMPRE – eu digo SEMPRE – me deixou bem e segura e me apoiou. Eu fiquei alguns meses em Toronto sozinha e ele vinha me visitar sempre, me ligava todos os dias e confirmava que viria, até o dia que ele confirmou isso e a ficha caiu: nossa família estaria vivendo no Canadá. Jojoe e Ju chegaram com suas malas no dia 13 de janeiro de 2011 e desde então Toronto se tornou o nosso lar.

Pessoalmente eu comemoro minha vida no Canadá no dia 30 de agosto de 2010, o dia que uma menina recém casada de 28 anos veio atrás dos seus sonhos. Eu não gosto de dizer que vim sozinha – porque tinha apoio e a admiração de todos – mas quem me conhece sabe que isso não era fácil para mim. Sempre fui uma pessoa muito apegada à minha família e que não me aventurava fácil. Juliano foi meu primeiro namorado e meu grande amor: estar longe dele não era fácil para mim. E estar longe dos meus pais que sempre me guiaram também. Mas este passo foi tão importante para mim e me tornou quem eu sou: determinada, focada e muito feliz.

Os anos passaram e eu aprendi muito. Sim, é clichê falar sobre isso mas eu sinto que estar vivendo em Toronto com o amor da minha vida em um país onde eu consegui realizar meus sonhos profissionais e pessoais me fez ter uma visão do mundo e da vida em geral que eu nunca imaginei ter. As minhas perdas gestacionais, os enormes desafios de estudar, dar aula e tentar se destacar no meio de pessoas fluentes em inglês, os invernos rigorosos, a saudade do Brasil, as adaptações no estilo de vida de uma nova cultura, os lugares visitados, os novos amigos, as viagens ao Brasil e ver o país sob uma nova perspectiva, as perdas de familiares, o doutorado e os dois pós-doutorados que eu terminei, os meus dois meninos, o meu filho peludo que viveu a maior parte da sua vida aqui no Canadá – e muito intensamente, as visitas dos amigos… tudo que passei nestes 10 anos de Canadá foram tão intensos e tão especiais que eu me sinto realmente abençoada por Deus de ter vivido isso. Não acho que teria sido o mesmo se fosse em outro lugar. Não acho que teria sido tão especial se fosse em outro lugar. Sinto que encontrei meu lugar no mundo e, melhor do que isso, encontrei meu objetivo de vida e me sinto bem com o que faço, com a maneira que contribuo com o mundo através do meu trabalho, com os filhos que estou criando para fazerem a diferença no mundo e com o ar que eu respiro.

Os últimos 10 anos da minha vida – que foram vividos no Canadá – foram intensos. Eu não consigo lembrar da última vez que fiquei um dia à toa em casa sem fazer nada, mesmo antes dos meninos. Quem me conhece sabe que eu estou sempre escrevendo, lendo, estudando, viajando, explorando, amando, vivendo… Não quero – e nem posso – dizer que isso é o certo e que você que está lendo este texto deve fazer o mesmo. O que eu posso dizer é que essa intensidade, essa paixão pela minha vida, essa felicidade em viver, essa necessidade em estar ocupada, essa vontade de compartilhar e ajudar não estava em mim antes. Essa “nova Gabriela” foi criada em Toronto e eu gosto muito desta minha versão.

Não sei o que o futuro nos reserva. Eu não sei se iremos viver aqui para o resto das nossas vidas. Eu não gosto de colocar rótulos definitivos na minha vida. O que eu sei é que hoje estar em Toronto me faz muito bem e não há nada que eu quisesse mudar neste momento em relação a isso. Escrevendo este texto eu fico me perguntando o que será que irá acontecer daqui a 10 anos… obviamente é impossível saber, mas uma coisa é certa: eu NUNCA foi me esquecer destes 10 intensos e maravilhosos primeiros anos de Canadá. Foram certamente os melhores anos da minha vida.

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