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Sobre ser feliz sem sair de casa e o peso que esta felicidade me traz

Hoje é dia de projeto #vidanaGTA e o tema iria ser outro: um tema leve e com dicas incríveis para vocês passearem e curtirem a região de Toronto agora que o clima está melhorando e que o frio extremo está indo embora. Porém, ontem conversamos e decidimos que diante de tudo que está acontecendo em Toronto, no Canadá e no mundo nós poderíamos aproveitar o projeto – e a opinião de pessoas diferentes que estão vivendo uma situação semelhante – e escrever indiretamente sobre o assunto coronavirus. Eu digo indiretamente porque nem todas as pessoas se sentem confortáveis sobre o assunto. Eu, por exemplo, decidi não falar minha real opinião sobre o tema, mas também não me sinto confortável em não falar. E é por isso que eu escrevi este post aqui com vários links confiáveis com informações para você se informar e decidir como irá se cuidar ou até se irá se cuidar.

Ontem a Livi do Baianos no Pólo Norte (que também faz parte desse projeto) escreveu este post aqui contando que a família dela optou por fazer o isolamento voluntário diante de tudo que está acontecendo aqui em Toronto. Em resumo o governo não determinou que as pessoas devem ficar em casa em quarentena, mas orientou todos a evitar socialização e lugares com muitas pessoas, sendo que muitos destes lugares (centros comunitários, bibliotecas, atrações turísticas e eventos – conforme escrevi aqui) estão fechados, alguns por tempo indeterminado. Muitos escritórios estão orientando seus funcionários a trabalhar de casa e as escolas e creches estão fechadas. O motivo de todas essas medidas é evitar um pico de casos que irá sobrecarregar nosso sistema de saúde e irá afetar não somente as pessoas que estão com a doenças, mas outras que necessitam de cuidados por outras causas.

Nós aqui em casa também somos sortudos por podermos fazer o isolamento voluntário. E digo isso por vários motivos, especialmente porque podemos trabalhar de casa e porque temos dinheiro para poder comprar um pouco mais de comida que irá garantir que a gente não saia para fazer compras neste período. Sei que esta não é a realidade de todos. E sei que nem para todos estar em casa em uma situação como essa pode ser algo tranquilo e prazeiroso como está sendo (em parte) para nós. Eu estou muito feliz de poder estar em casa e proteger meus filhos de tudo isso. Estou feliz de poder ficar com eles mais tempo do que o normal. Estou feliz de acordar e trazer eles para a nossa cama, de ganhar beijos sem pressa pela manhã e não correr para tomar café da manhã. Estou feliz de ter montado um schedule com meu marido que nos permitirá trabalhar e cuidar deles. Estou feliz em não estar saindo na rua e não proliferar ainda mais essa doença desconhecida. Estou feliz em ter uma casa e um teto que pode proteger minha família.

Apesar de estar feliz com muitas coisas eu ando ansiosa e apreensiva com a situação. Esta felicidade traz um peso em mim – peso este que talvez eu não saiba como explicar para vocês, mas vou tentar. Como disse anteriormente eu sei que nem todos são privilegiados como eu e eu não me sinto confortável em estar bem em casa sabendo que tem muitas mães solteiras que não terão onde deixar seus filhos na segunda-feira. Sei que existem pessoas que não podem fazer este isolamento voluntário porque se não forem trabalhar na segunda podem perder o emprego. Sei que o cancelamento dos eventos e atrações irá impactar a economia e a vida de muitas pessoas (como o moço que vende o cachorro quente depois do jogo de basquete irá ganhar seu salário com o cancelamento da NBA? como as pessoas que trabalham nos restaurantes e sobrevivem de gorjeta irão ganhar seu salário já que as pessoas resolveram ficar em casa? como as lojas locais irão pagar o aluguel no final do mês com as vendas diminuindo drasticamente já que as pessoas estão sim ficando mais em casa?).

O peso da felicidade de poder ficar em casa é algo que está me incomodando bastante, tanto ao ponto de eu estar aproveitando o tempo “livre” para pesquisar e me informar em como poderei ajudar essas pessoas. Ainda não estou conseguindo achar muita informação mas coloco aqui minha idéia e abro os comentários deste texto para sugestões de locais que estejam necessitando de ajuda ou grupos de pessoas que estejam realmente impactadas com isso. A verdade é que em situações como essa nós temos que pensar na nossa responsabilidade como cidadãos do mundo e sim, ficar em casa faz parte desta responsabilidade, mas não é a única. Lembrar das pessoas que não tem esta felicidade e tentar ajudar de alguma maneira é tão (ou mais) importante. E espero que esta reflexão ajude vocês a identificar isso e fazer a diferença no mundo, um mundo que hoje certamente precisa muito mais de você do que antes.

A foto que ilustra este post traz um pouco de como minhas noites estão sendo: coloco os meninos para dormir, acompanho pela babá eletrônica a movimentação da galerinha e trabalho para compensar as horas que fico cuidando deles já que não temos creche e escola por 3 semanas. Meu marido está em outro andar, fazendo o mesmo. Como falei anteriormente este post faz parte do projeto #vidanaGTA onde eu e outros blogueiros brasileiros que moram na região metropolitana de Toronto (GTA) falam sobre um mesmo tema, todo dia 15 do mês. Espero que tenham gostado da maneira que abordei o tema e não deixem de conferir os posts sobre este assunto nos outros blogs que participam deste projeto este mês:

Livi | Baianos no Pólo Norte
Paula | Brasileira em Toronto
Sil | Mundo da Sil
Reinaldo | Vivendo em Hamilton

5 comentários em “Sobre ser feliz sem sair de casa e o peso que esta felicidade me traz”

  1. Amei a forma como você abordou o tema!

    Concordo com cada detalhe, temos que agradecer por sermos privilegiados e termos a opção de trabalhar de casa. O meu marido não pode. Eu também penso muito de como isso irá impactar as pessoas. Espero que o governo dê algum tipo de ajuda financeira e que essa situação se resolva o quanto antes para que todos possam voltar a rotina normal.

  2. Gostei muito do seu post Gaby! É muito difícil não pensar nos que não tem alguns privilégio que nós temos, como por exemplo poder trabalhar em casa. E como isso vai impactar no futuro do mundo inteiro. Mas se Deus quiser isso vai passar logo. ?

  3. Excelente reflexão. Fico contente que vocês tenham a oportunidade de trabalhar de casa, e espero que todos que também têm essa chance, possam agarrá-la. Estou aqui na torcida para que as coisas se resolvam antes do que imaginamos. Bom domingo a vocês!!!

  4. Amei sua reflexào Gaby, super madura e responsável.
    Como você disse, nós aqui também temos esse privilégio de ficar em casa, mas sempre me pego pensando nas pessoas que continuam expostas e também no impacto na economia e as consequencias que isso trará.
    Espero que tudo volte ao normal em breve e que como comunidade possamos ajudar o próximo de alguma maneira.
    Beijos.

  5. Ótima reflexão. Eu vi no Brasil duas pequenas formas de ajudar as pessoas que precisam trabalhar. Em um exemplo a pessoa dispensa a diarista para que ela não precise usar o transporte público, mas mesmo assim paga pelo serviço. Outro caso é preferir consumir produtos de pequenas empresas, que têm são mais impactadas com o isolamento voluntário. Não sei como podemos adaptar isso à nossa realidade no canadá, mas é algo a se pensar. Abraços

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