Hoje é dia de projeto Mães no Canadá aqui no blog e o tema caiu como uma luva porque recém voltei da minha licença maternidade e estou lutando dia à dia para conciliar a vida profissional e a maternidade. Especificamente esta semana – minha terceira semana de volta ao trabalho, quando as coisas estão começando a engrenar – o Ian teve uma gripe forte e ficou dois dias em casa e o Thomas teve diarréia na segunda. Resultado: perdi dois dias de trabalho, quase não dormi a semana toda e com tudo isso está difícil de focar e ser produtiva. Portanto, acho que é o momento oportuno de tratar deste tema tão delicado no universo das mães, sendo mais delicado ainda para as mães expatriadas, que não tem apoio da família e tem que se desdobrar para tentar conciliar essas duas tarefas importantes na vida de toda mulher.
Em primeiro lugar eu quero falar um pouco da minha profissão ou do porquê de eu amar de paixão o que eu faço. Eu sou fisioterapeuta de formação e desde 2006 eu venho estudando doenças cardiovasculares e maneiras de ajudar as pessoas que, especificamente, tem problemas cardíacos. Depois de um mestrado, um doutorado (na Universidade de Toronto, o que nos trouxe para o Canadá) e dois pós-doutorados eu finalmente consegui o emprego que eu sempre sonhei: o de pesquisadora em um hospital de reabilitação aqui de Toronto. O melhor da minha profissão não é o meu cargo, mas o que eu faço: eu passo meus dias estudando e pensando e calculando e tentando ajudar pessoas com um problema grave de saúde. Tudo que eu estudo irá – de alguma maneira – afetar a vida de muitas pessoas, de uma maneira positiva. E isso enche meu coração de alegria porque eu sinto que encontrei o meu lugar no mundo. Obviamente não é um trabalho fácil e exige, entre outras coisas, muita leitura, atualização, cursos, tranquilidade e estrutura. Não dá para bolar projetos de pesquisa, criar objetivos, desenvolver métodos de análises e, consequentemente impactar a vida das pessoas se tudo não estiver no lugar, se sua cabeça não estiver descansada e estruturada e se você não tiver tempo para se dedicar a isso.
Agora vamos olhar o outro lado da minha vida, o meu lado de mãe. Quem acompanha a minha história sabe que eu sempre quis ser mãe. Eu engravidei em 2012 e perdi meu primeiro filho – e isso deixou marcas profundas em mim e até hoje eu sofro. Depois engravidei novamente no ano seguinte e perdi meu segundo bebê. Entre dúvidas, consultas e um tratamento de fertilização in-vitro eu engravidei do Thomas, que está com quase 4 anos. Depois disso eu fiz um novo tratamento de fertilização in-vitro, agora para receber o Ian, que tem 1 ano de idade. E nesse meio tempo não posso deixar de falar do meu filhote peludo mais velho – Jojoe – que esteve presente em todo esse processo e que sempre encheu meu coração de amor e esperança. Ser mãe é algo que eu sempre sonhei e quando olho e vejo a família que construí com meu marido eu me encho de alegria e me sinto realmente realizada.
E ai vem a parte difícil: como conciliar duas coisas que me fazem tão bem, que foram super difíceis de serem alcançadas e que me deixam tão realizadas? Eu não seria uma pessoa feliz se ficasse em casa com meus filhos sem trabalhar, porque eu amo o que eu faço e lutei bastante para conquistar o espaço que ocupo hoje. E – quem trabalha em área de pesquisa vai me entender – ficar um tempo em casa para depois voltar para a sua posição não existe, pois pesquisa científica é uma coisa que muda muito e precisamos estar sempre atualizados (eu estou penando um pouco para me atualizar com tudo que aconteceu nesses meses que fiquei em casa). Eu também não seria uma pessoa 100% feliz em deixar meus filhos na creche e escola o dia inteiro para me dedicar ao trabalho: ver eles alguns minutos pela manhã e algumas horinhas à noite não é a maneira que eu quero viver os primeiros anos deles, que são tão importantes.
Qual é a solução? No meu caso é equilíbrio. Equilibrar tudo que eu faço e tentar, de alguma maneira, encontrar soluções simples para os problemas simples e dedicar mais tempo para aquilo que realmente é importante. Vou tentar explicar para vocês. Ser prática. Ser uma pessoa extremamente organizada – e é por isso que eu consigo, entre outras coisas, manter o blog diante de tudo que eu faço. Note aqui que não estou dizendo que é fácil, apenas que eu organizo minha vida para que eu consiga me dedicar a tudo aquilo que me faz bem. Eu tenho a sorte de poder trabalhar alguns dias de casa, de poder determinar meus deadlines (nem sempre), de ter a capacidade de me concentrar facilmente e ser produtiva (isso ajuda muito). Eu consigo criar objetivos para meus dias e semanas e, quando estes são alcançados, eu consigo relaxar e focar em outras coisas. Trabalho com pessoas que entendem e me apoiam, que sabem do meu amor pelos meus filhos e da necessidade que tenho de ficar com eles. Claro que este entendimento e apoio foi conquistado por mim, mostrando que eu consigo entregar a tarefa pedida no prazo determinado. E, obviamente, nem sempre funciona e nem sempre é fácil. Mas eu levo um dia de cada vez e eu dou o meu melhor sempre e em tudo.
Então, eu tento conciliar meus dias entre trabalho e filhos, tirando o foco de coisas que não me agregam em nada. Por exemplo, eu não passo horas na frente da TV: eu prefiro tirar este tempo para adiantar o trabalho e quem sabe no outro dia sair mais cedo para ficar mais tempo com os meninos. Outro exemplo é a limpeza da casa: eu tento organizá-la e limpá-la mas não gasto um dia inteiro fazendo faxina e deixando tudo impecável, porque eu uso este tempo para trabalhar ou ficar com as crianças. Meu tempo no celular e nas redes sociais também é reduzido e, embora muito ativa nas contas do blog, eu não perco muito tempo olhando o que os outros postam e fazendo pesquisas que não vão me agregar a nada. Novamente, eu prefiro tirar o tempo para adiantar algo do trabalho ou, ainda, escrever no blog, que é algo que me faz muito bem. Obviamente não é fácil mas eu faço um exercício diário e sempre penso se o tempo com aquela tarefa irá me agregar em algo e se eu conseguiria usar este tempo para fazer outra coisa que iria me fazer bem. Em resumo: não perco tempo com coisas que não tem importância na minha vida e foco sempre naquilo que me faz bem.
Não é mágica: é persistência, foco, organização, trabalho e muito amor. Porque é o amor que move a gente a tentar fazer várias tarefas em um dia e, ainda assim, estar sorridente e feliz à noite, tornando o momento com os pequenos algo inesquecível. E são esses 5 pilares que me mantém forte nessa tarefa (difícil) de conciliar a maternidade e o trabalho.
Como falei anteriormente este post faz parte do projeto Mães no Canadá, no qual eu e outras mães brasileiras que moram no Canadá falamos sobre um mesmo tema, todo dia 20 de cada mês. Não deixem de conferir também o que as outras participantes do projeto tem a dizer sobre o assunto.
Alessandra (Bathurst, NB) | Canadiando
Amanda (Richmond, BC) | Viva Canada
Beatriz (Vancouver, BC) | Biba Cria
Carol (Vancouver, BC) | Fala Maluca
Danielle (Toronto, ON) | Vidal no Norte
Livi (Toronto, ON) | Baianos no Pólo Norte
Mari (Calgary, AB) | De Bem Com a Vida