O post de hoje foi super divertido de escrever, pois me fez lembrar de momentos que marcaram o começo da minha vida aqui em Toronto. E marcar de forma engraçada e até vergonhosa, se é que vocês me entendem. Pagar mico é algo comum para pessoas que vem morar em um local com costumes e culturas diferentes, então foi fácil para mim lembrar de 10 micos, perrengues ou histórias engraçadas que passei. E o intuito deste post é para lembrar vocês que “acontece” e “vocês não estão sozinhos”. E, como sempre, vou AMAR saber quem ai já passou por micos como estes ou outros.
1. Final de semana em Londres
No meu primeiro ano de Canadá estava conversando com um colegas de doutorado sobre os planos para o final de semana – lembro que era primavera e o clima quente estava firmando, então todos estavam animados. Ai começamos a falar o que cada um ia fazer: ir passear no lago, visitar os pais, ficar em casa estudando, viajar para Londres… Isso mesmo. Eu ouvi viajar para Londres e na hora dei um “uau” e falei “que chique”. E ainda perguntei quando a pessoa voltava e ela me respondeu “vou na sexta mas já volto no domingo”. Fiquei perplexa porque imaginei que seria Londres na Inglaterra e só depois de várias perguntas e de me envergonhar na frente de todo mundo é que descobri que minha colega estava mesmo indo para a Londres de Ontario. Hoje ao ouvir London eu sempre pergunto se é a de Ontario ou a da Europa. E isso também se aplica a Paris e Boston.
2. O push e o pull das portas
Ta ai uma coisa que já me fez passar MUITA vergonha, especialmente em lugares bem movimentados e quando você sabe que tem 10 mil pessoas atrás de você querendo entrar pela mesma porta. Push em inglês significa empurrar e pull significa puxar. E logo que cheguei aqui e via PUSH escrito na porta para entrar eu começava a puxar (obviamente!) e a porta não abria e as pessoas começavam a aglomerar-se atrás de mim e eu a ficar nervosa… enfim. Hoje eu confesso para vocês que evito ler para não me enrolar, porque me confundo ainda se paro para ler e pensar no significado inverso das palavras.
3. Peanut free environment
Quando estudava na UofT eu via várias placas de “ambiente livre de amendoim” e não conseguia entender o que era. JURO que não me passava nada na cabeça. Não era mãe, não entendia sobre alergias, estava aprendendo tanta coisa nova que isso não me passava pela cabeça. Mas lembro que sempre que ia a um local para estudar onde podíamos comer ou uma sala de espera para alguma reunião eu via a placa e por breve segundos tentava compreender, mas ai já voltava para “minha cabeça pensante de primeiros meses de doutorado que não me deixava pensar em mais nada”. Um belo dia – e lembro bem até hoje da placa e do relógio marcando 5 para as 4pm na parede – estava esperando uma consulta com uma estatística no prédio da OISE da Universidade de Toronto na Bloor Street West e resolvi abrir uma barra de cereal de amendoim para comer antes da reunião. Estava comendo minha barrinha quando a atendente veio super brava me repreender, mostrando a placa e dizendo para eu me retirar, jogar a barra no lixo (fora dali) e lavar as mãos no banheiro. Ai sim a ficha caiu (e até hoje eu morro de vergonha do ocorrido).
4. Os 3 beijinhos
Este mico dos 3 beijinhos eu conto em detalhes neste post aqui do blog. Em resumo, sou do sul do Brasil e lá as pessoas costumam dar 3 beijos na hora de cumprimentar um conhecido ou ser apresentado a um desconhecido (isso mesmo: um beijo, outro beijo e mais outro beijo), geralmente seguido de abraço. E em 2009 quando conheci meu orientador – apesar de pensar mentalmente no trajeto até o hospital que eu NÃO iria dar beijos e só estender a mão – eu acabei dando 3 beijinhos. Ele não entendeu nada na época e acho que ficou sem jeito, mas hoje depois de quase 10 anos de convivência – e quando algo de bom acontece relacionado ao trabalho ou vida pessoal – eu sempre pergunto se posso abraça-lo para agradecer ou comemorar. E ele diz que sim (claro!). Mas nada de beijo. Confesso que fico com vergonha sempre depois, mas este é meu jeito e quem me conhece – como ele – sabe que sou assim mesmo.
5. Quer comer rabo de castor?
No meu primeiro ano de Canadá eu lembro de questionar meus colegas de estudo canadenses sobre o que eles comiam aqui em Toronto e qual era a comida típica do local. Eu era até chata porque estava louca para provar pratos diferentes e queria indicações de outros pratos que não fossem poutine. Eis que um colega me fala que eu deveria provar rabo de castor – beaver tail – e que era delicioso. Lembro que na hora me estômago embrulhou e achei nojento pensar comer o rabo de um bicho. E ai fiz uma cara de nojo e ele não entendeu nada. Algum tempo passou e eu acabei esquecendo do tal rabo e eis que estava em Ottawa a passeio e me deparo com uma loja da Beaver Tail. Fui olhar e não acreditei: o beaver tail é uma massinha frita com canela (estilo sonho) esticada a mão (para se assemelhar a uma cauda de castor) e é coberto com condimentos de sua escola, como frutas, chocolate, nutella, chantilly, oreos ou pasta de amendoim. Não, não é carne e sim, amo desde então. Detalhe: nunca voltei a tocar no assunto com meu colega.
6. Abastecendo o meu carro pela primeira vez
Em 2011 meu marido teve que ir às pressas para o Brasil por motivos familiares e eu fiquei sozinha em Toronto de uma hora para outra (sozinha não, com Jojoe). Era setembro e o clima estava ótimo. Eu já dirigia por aqui, mas como morávamos no centro 99% do que eu fazia era a pé ou usando o transporte público e nos finais de semana preferia que meu marido dirigisse. Como a viagem foi às pressas nada foi muito planejado e o carro estava com pouco combustível. Em um domingo pensei em pegar o peludo e sair para um parque mais afastado. Mas tinha que colocar gasolina – “moleza”, pensei. Parei no posto, coloquei o cartão na máquina, escolhi o tipo de gasolina que queria e estava prestes a colocar o combustível mas o tanque não abria. De jeito algum. E eu tentei ligar e desligar o carro, forçar com a chave, e nada. Sentei novamente no carro, peguei o manual (de 1000 páginas) e procurei por tudo como fazia para abrir o tal tanque. Também fiquei de olho para ver se alguém com algum carro semelhante ao meu para ver como eles faziam. Nada. Acabei voltando para casa porque não consegui e quando falei com meu marido à noite ele me explicou que no nosso carro tem uma alavanca embaixo do tapete do motorista que abre o tanque de gasolina. Que bom que desisti porque eu NUNCA ia achar.
7. Cantando parabéns em uma festa de Canadenses
Ah gente, que mico. Pensem na situação: aniversário de um colega de trabalho no meu primeiro ano no Canadá, festinha supresa onde cada um traz um prato, bolo lindo e todos reunidos. O aniversariante chega, todos falam “surprise”, ele lê o cartão e se emociona. Hora de comer e cortar o lindo bolo, mas antes tem que fazer o que? Cantar o parabéns. Oba, será a primeira vez que canto parabéns em inglês por aqui em pensei. Estava empolgada e já preparei as palmas. Ai começamos e só eu – SÓ EU – bati palmas. Algumas pessoas ao meu lado olharam e não entenderam. Sorte que parei na terceira ou quarta palma e nunca mais caio nessa. Parabéns para você aqui é sem palmas e sem grande empolgação. Fica a dica.
8. POP do TTC
Todos os clientes do TTC devem ter um Comprovante de Pagamento válido (POP = poof-of-payment), como um cartão PRESTO, um transfer de papel ou um passe do TTC (Metropass, Passe Semanal, etc) enquanto estiver viajando em qualquer meio de transporte da empresa. Seu POP prova que você pagou sua passagem e pode ser solicitado a qualquer momento por um inspetor de tarifas ou um operador quando você faz a transferência entre um ônibus, streetcar ou metrô. O comprovante de pagamento é exigido em todas as rotas de streetcar e estes são marcados com um adesivo POP especial. Pois bem, no começo da minha vida aqui em Toronto eu sabia da existência do POP, mas não que eu deveria pegar o documento no onde eu paguei a tarifa. Eu geralmente saia do metro e ai pegava o comprovante, antes de embarcar no ônibus. Pois eis que um dia o motorista resolveu pedir o POP para todo mundo e eu, toda orgulhosa, mostrei o meu da mesma estação que estava pegando o ônibus. Resultado? O motorista mandou eu sair e tive que pegar o próximo ônibus e pagar a tarifa novamente. Agora se eu esqueço de pegar o POP quando eu entro no metro eu salto em uma outra estação só para pegar o comprovante e não correr o risco de passar por este mico de novo.
9. Pegando o ônibus na direção errada
Este perrengue não aconteceu comigo mas com minha mãe e minha sogra. O ônibus que passa aqui em casa muda de nome no meio do percurso: na estação ele é 87 – quando está indo para o sul – e ao seguir para o norte muda para outro número, o 81. Muitas vezes quando pegamos ele aqui em casa ele já está com a placa trocada e mostra “ônibus 81”. Pois um dia elas estavam na estação de ônibus e queriam vir aqui para casa e pegaram o número errado – o 81 -, pois acharam que só tinha um número de ônibus. Então, ficaram literalmente 40 minutos no ônibus e chegaram novamente na estação de ônibus. Não entenderam nada, me ligaram e ai eu expliquei qual ônibus pegar. Não sei se isso acontece em todas as linhas mas é confuso e pode causar muitos perrengues. Imagino que o motorista deve ter pensado que elas queriam passear no ônibus apenas.
10. Chegando menos de 10 minutos antes do horário marcado
Enquanto no Brasil a gente marca a festa para começar em um horário sabendo que as pessoas irão chegar 1h depois do horário marcado aqui no Canadá as pessoas são super pontuais e chegam no horário certinho. Como já contei para vocês neste post aqui a pontualidade britânica foi uma característica que aprendemos depois de morar aqui no Canadá. Uma vez eu tinha uma reunião com uma estatística em um determinado horário e cheguei menos de 10 minutos antes. Pois ela me disse para eu voltar para a sala dela 10 minutos depois, quando desse a hora certa. Morri de vergonha e hoje tento ser pontual ao extremo.
Este post faz parte do projeto #vidaemTO onde eu e outras blogueiras brasileiras que moram em Toronto falam sobre um mesmo tema, todo dia 15 do mês. Espero que tenham gostado da maneira que abordei o tema e não deixem de conferir os posts sobre este assunto nos outros blogs que participam deste projeto:
Livi Souza | Blog Baianos no Pólo Norte
Mirella Matthiesen | Blog Mikix
Tô há 6 meses aqui e AINDA puxo as portas toda vez! Que vergonha! Meu cérebro não consegue armazenar isso gente! Hahahahah
Não precisa nem olhar para a placa. Em geral, se do seu lado da porta tem uma barra horizontal, é para ser empurrada, e se tem uma “aba” vertical, é para ser puxada. E na grande maioria dos casos, as portas se abrem para fora, para facilitar a saída em caso de emergência (acho até que faz parte do código de construção civil).
Entendo…. hehehehe
Gaby,
Você lembrou de uns muito bons!!! Essa do cantar parabéns e sair batendo palma é o máximo!!!
O Push eu já desisti, até hoje faço dessas 🙂
Ameiiiiii
Eu desisti tbem…. acho confuso demais e na correria e com a cabeça cheia meio que é automático mesmo.
Olá Gaby,
por favor, pode explicar melhor a função do POP do TTC?
Pretendo ir de férias para Toronto e fiquei meio confusa com a questão do transporte público.
Obrigada!
https://gabynocanada.com/2013/11/16/curiosidades-do-transporte-publico-de-toronto/
https://gabynocanada.com/2012/03/09/ttc-o-transporte-publico-de-toronto/
Espero que ajude!
Gaby, to morrendo de rir de você batendo palmas sozinha no aniversário ????
Ninguém merece né?