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Os últimos dias do Honest Ed’s de Toronto

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Quem já passou pela intersecção das ruas Bathurst e Bloor com certeza deve ter notado o prédio enorme, cheio de vitrines e letreiros luminosos. Este prédio é o Honest Ed’s, uma enorme loja de departamentos que é considerada um ícone de Toronto. A loja foi aberta em 1948 e seu nome faz referência ao seu proprietário – Ed Mirvish – que supervisionou as operações da loja por quase 60 anos (até sua morte em 2007). A loja está programada para fechar permanentemente em 31 de dezembro de 2016 e eu não poderia deixar de passar pelo local mais uma vez para bater fotos e “me despedir” de um lugar cheio de história. Resolvi escrever um post para vocês com alguns fatos da loja e para deixar registrado aqui no blog um pouco do Honest Ed’s, já que só tinha falado dele no post de lugares incomuns de Toronto.

Sobre o edifício

Conforme escrevi anteriormente a Honest Ed’s fica na esquina da Bloor com a Bathurst, ocupando todo o quarteirão. O exterior é coberto por 23 mil lâmpadas vermelhas e amarelas anunciando o nome da loja, que se iluminam à noite como um letreiro de Las Vegas. Há várias vitrines e além delas a fachada exterior é coberta com trocadilhos e slogans como “Venha e se perca!” ou “Somente os assoalhos são tortos!”.

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A loja consiste em dois edifícios ligados por uma ponte. O interior da loja é modesto (bem diferente do que esperamos quando vemos a loja da rua), com mercadorias expostas geralmente em balaios. As mercadorias são diversas e incluem roupas, eletrodomésticos, materiais de higiene, comida, utensílios para cozinha, brinquedos e itens de mercearia. Grande parte da decoração da loja consiste em cartazes e fotos de filmes antigos e produções de palco dos teatros de Mirvish em Toronto e de atores e músicos que atuaram neles (já que o Ed Mirvish do Honest Ed’s é o mesmo dos teatros de Toronto).

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Cada um dos cartazes citados acima é pintado à mão e são bem famosos por aqui. Quando a loja anunciou que ia fechar vários letreiros foram colocados à venda e vendidos rapidamente (mais exatamente 20 mil deles). Há ainda alguns expostos para venda na loja (e não podemos bater foto deles, somente bati a foto abaixo de uma das vitrines externas). E se você reparar a estação Bathurst teve todos os seus signs refeitos com as letras destes cartazes.

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História

A loja Honest Ed’s ficou famosa por estratégias de marketing que seu dono fez, incluindo dar perus de graça antes do Dia de Ação de Graças ou do Natal. Ainda, Ed Mirvish também ficou famoso por celebrar seus aniversários na rua, com refeições, bolos e brindes gratuitos. Na época multidões de moradores de Toronto iam celebrar a data e ficavam na fila esperando os descontos e os brindes, tudo cheio de muitos balões e música.

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Um parênteses aqui: enquanto visitava a loja estava batendo algumas fotos (e não era a única) e ouvi a conversa de uma mulher (que também batia foto) com uma senhora que descia as escadas com dificuldade. A senhora falou algo do tipo “pode bater a foto que eu espero” e a mulher comentou que estava batendo fotos porque a avó dela a levava muitas vezes para o Honest Ed’s e ela queria registrar este momento antes deles demolirem o local. A senhora então disse que ia lá todos os dias até fechar, e falou que já ganhou muitos perus e já gastou “muitos centavos” na loja.

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Sobre a venda

Já faz um tempo que anunciaram que o Honest Ed’s iria fechar: mais precisamente em 16 de julho de 2013. O local foi vendido por C$100 milhões. Na época foi anunciado que o novo proprietário (a Westbank Properties de Vancouver) iria alugar o espaço por mais alguns anos – e foi isso que aconteceu. O filho de Ed – David Mirvish – alugou o local até 31 de dezembro de 2016. O novo projeto desta região está todo explicado aqui e inclui 3 torres residenciais para alugar (21, 22 e 29 andares), algumas lojas, um calçadão e um novo mercado público. A Markham Street irá se tornar uma woornerf, que é uma “rua viva”, um tipo de rua mais comum na Europa na qual o espaço é compartilhado entre carros, pessoas, ciclistas e o tráfego é calmo e com baixa velocidade. Vamos aguardar e ver como ficará.

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Minha opinião

Eu acho os preços da loja bem mais caros – não vejo nada de barato lá, sinceramente. Mas é claro que quando pensamos em toda a história do local levar em consideração que quando foi aberto (em 1948) não existiam Dollaramas e Wallmarts e o cenário era outro. Ai você pega aquelas pessoas mais velhas que sempre compravam lá e tenta convencer a comprar em outro lugar? Ou pessoas que ganharam um peru no Natal ou um bolo no aniversário e sentem que devem algo ao Ed? Ou ainda pessoas que comprar um super deal uma vez e voltam ao local na esperança de encontrar outro, ainda mais nos dias que antecedem o fechamento da loja? Sim, a loja estava bem cheia, mesmo com preços ruins.

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Todas as poucas vezes que fui na loja eu nunca comprei nada (e nunca esperei comprar sinceramente) mas eu ia para “bisbilhotar” e “me perder”. Caminhar pelo Honest Ed’s é ver uma Toronto diferente, uma Toronto parada no tempo, uma Toronto curiosa (para muitos, como eu). E a dica é que você dê uma passadinha por lá só para conhecer e ver do que se trata. Você vai achar muitas pessoas bem humildes, não vai achar nada bom para comprar (tá bom eles estão vendendo Panettone Bauducco a menos de C$6) e vai achar a loja velha, suja e abandonada. Não espere glamour, tenha certeza que você vai se perder e conheça uma Toronto parada no tempo que certamente você não vai encontrar em outro lugar da cidade.

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5 comentários em “Os últimos dias do Honest Ed’s de Toronto”

    1. Olá: vai ser apertado. Acho que nos últimos dias a loja vai estar beeeeem vazia (i.e. abandonada) mas mesmo assim vale a pena entrar. Mas novamente não espere muito porque quando eu fui já estava bem vazia. Beijos

    2. Eu visitei o local mas não sabia da sua história. Visitei em 2014 e, de fato, a sensação de abandono, sujeira e até produtos que pareciam velhos ou até invendável já era visto naquele ano. Talvez, tais características já eram vivenciadas há um longo tempo. Registro que, era uma confusão visual para comprar algo, pois tudo era tumultuado, podemos dizer que bagunçado. Porém, o ar vintage, a cultura local, as histórias, até mesmo os produtos, fazia o local ser um ponto turístico. Valia a pena!!! Por fim, não comprei nada também na loja hehehe

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